Tivemos a oportunidade de assistir uma palestra na UNICID na semana do Painel de Tendências, ministrada pelo jornalista da VEJA Rafael Sbarai.
A forma como ele discorre sobre o assunto nos despertou interesse em conhecê-lo um pouco melhor, já que ele gerencia os perfis de VEJA em plataformas sociais.
É com enorme satisfação que postaremos uma entrevista que o Rafael concedeu ao nosso Blog.
Vela a pena conferir!!!!
tukrO’s 2.0: Conte-nos um pouco sobre você e seu trabalho.
Rafael: Bom, sou Rafael Sbarai, tenho 23 anos e sou mestrando em conteúdo colaborativo jornalístico na Faculdade Cásper Líbero. Me formei no ano passado em Jornalismo e desde dezembro de 2008 faço parte da equipe de VEJA - VEJA.com. Além de jornalista e coordenador do projeto dos 40 anos de VEJA, gerencio os perfis de VEJA em plataformas sociais como o Facebook e o Twitter e sou uma espécie de estrategista de conteúdo web, valorizando cada vez mais novas narrativas jornalísticas: esquecendo o texto e buscando cada vez mais a interação para a construção da informação.
Antes de ingressar no grupo Abril, trabalhei por 3 anos e cinco meses no portal iG, na editoria de esportes e na equipe de Mobile.
Ah, também fui jogador do juvenil do Palmeiras por um ano antes de começar essa corrida no mundo da comunicação.
tukrO’s 2.0: Como conheceu “o mundo” dos Blogs?
Rafael: Lá em 2002, 2003, quando estava acabando o colégio, já tinha um blog com amigos meus sobre esportes, com ênfase no futebol. Era apenas uma brincadeira, sem pretensão alguma de buscar receitas ou formar uma rede de pessoas do mesmo interesse no tema, tanto que acabou pouco tempo depois.
Aos poucos, a idéia de ter um blog pessoal foi amadurecendo na Universidade, quando uma professora (Daniela Osvald Ramos) me incentivou a produzir um blog sobre Cultura Digital e comportamento humano com o uso de plataformas tecnológicas. Já tinha ensaiado algo, mas a atitude me estimulou a criar um ambiente virtual no Wordpress. De 2005 pra 2006. lancei o De Repente com o mesmo objetivo de hobby, porém com um interesse em conhecer pessoas da área e discutir sobre o futuro da comunicação e todo este contexto sobre o que se define 'nova mídia'.
Aos poucos, comecei a participar de desconferências em formatos #camp. Fui a quase todas, desde o início, que começou lá na Cásper Líbero com o Barcamp. Em pouco tempo, houve o "boom" de eventos com este modelo, como NewsCamp, BlogCamp... E isso contribuiu para construir um laço com pessoas da mesma área: blogueiros, jornalistas e entusiastas da comunicação.
O De Repente começou a ganhar maior respeito a partir da participação e conquista de prêmios, como o iBest e, por duas oportunidades, no Best Blogs Brazil. Não temos uma audiência grande e nem é nossa intenção. Nosso público é cético e quer ver novidades. Logo, fugir do lugar-comum é o ingrediente essencial para a construção de um bolo no blog.
tukrO’s 2.0: O “De repente” surgiu apenas como um passatempo ou você já tinha a intenção de torná-lo uma ferramenta de trabalho, hoje você o considera sua ferramenta de trabalho?
Rafael: O blog surgiu mesmo como uma espécie de demonstrar o meu pensamento em relação a comunicação e a transição que o jornalismo passa com o avanço desenfreado da tecnologia e o acesso a rede mundial de computadores. Tornou-se uma ferramenta de trabalho pois trato de temas como uma espécie de consultoria. Gosto de opinar e falar sobre o futuro de redes, plataformas sociais participativas e uní-las ao Jornalismo.
Lembro que, no ano passado, li um artigo acadêmico da ECA-USP com citações ao De Repente. Isso mostra que o trabalho e a persistência de postagens diárias no blog provocam resultados. Não busco receitas, muito menos alarde. A intenção é aproximar pessoas e promover um debate profissional intenso.
tukrO’s 2.0: No seu Blog, você diz que há “Pitadas de Cultura Web, Jornalismo, Mídia e Colaboração”, como você chegou à conclusão sobre os assuntos que seriam discutidos no Blog?
Rafael: Isso é essencial: buscar um escopo ao seu blog. Não abrace o mundo: essa é a minha sugestão. O foco é primordial. Minha pequena trajetória profissional mostra o quanto sou fascinado pela editoria de esportes (vide o blog que lancei com outros dois jornalistas em VEJA.com sobre Copa do Mundo - http://veja.abril.com.br/blog/copa-2010/). Mas sabia que não podia unir tecnologia, comunicação, informação e esportes. Cada um em seu ambiente virtual destinado.
Cheguei a conclusão dos assuntos pela escassez de sites ou blogs sobre o tema. No Brasil, são poucos os ambientes virtuais que discutem situações como essa. O que é lugar-comum na blogosfera brasileira é o humor. Como não tenho essa arte, tento transferir ao internauta brasileiro o que é tendência e o que pode ser pertinente ou interessante no futuro como uso pessoal. O melhor exemplo do momento é o Twitter. Se você buscar no arquivo do blog, já começava a me interessar pelo Twitter no final de 2007, quando tinha um "ano de nascimento".
E isso contribui para o meu trabalho profissional e acadêmico. No blog, consigo reunir discussões que envolvem os dois âmbitos estruturais que busco.
tukrO’s 2.0: Quantas horas por dia você dedica especificamente às atividades relacionadas ao blog, e como elas são divididas entre as diversas tarefas que você tem no seu dia a dia de trabalho? Você tem idéia de quantas fontes consulta diariamente? Que fontes dentro e fora da Internet você recomenda?
Rafael: Não dedico muitas horas ao blog. Infelizmente. Você tem que estabelecer prioridades profissionais e como o trabalho em VEJA e os artigos que produzo no Mestrado tomam parte do meu tempo, acabo dando pinceladas ou menor atenção ao blog em relação aos últimos dois anos, por exemplo.
Antes, produzia dois posts por dia. Hoje, já é complicado publicar um diariamente. Mas isso acontece também pela distribuição de informação que faço há alguns meses. O próprio Twitter promoveu uma mudança de pensamento em propagar conteúdo. O blog ficou com um critério cético e reflexivo, enquanto na rede de micromensagens compartilho o que leio todos os dias.
Sobre blogs, consulto muitos. Visualize a barra lateral do meu blog. Admiro bastante a blogosfera espanhola. No Brasil, a lista também é intensa. Dentre todos, recomendo o Read Write Web e o NiemanLab, de Harvard. Sem sombra de dúvidas, duas consultas obrigatórias sobre jornalismo, comportamento e cultura digital. No Brasil, ultimamente acompanho mais perfis de Twitter do que blogs. Logo, recomendo @inagaki, @interney, @tdoria, @anabrambilla e @alecduarte. Acredito que eles complementam minhas leituras.
Mas, tenho que admitir a você: ando cada vez mais desconectado. Estou acompanhando mais papers e livros que estão sendo lançados. No momento, leio um do Jeff Jarvis sobre a Google. É fantástico.
tukrO’s 2.0: Como você vê a importância do marketing viral/mídias sociais para a sociedade em geral. Tanto no sentido da autopromoção das pessoas, como do investimento em uma mídia rápida e barata por parte das empresas.
Rafael: É um tema bastante delicado e que deve ter a devida atenção. Conversei há alguns dias sobre isso com o Mauricio Stycer, repórter-especial e blogueiro do iG (@mauriciostycer). Hoje, existem muitas propagandas veladas em mídia social que você nem percebe. Aí entra no quesito do "estou sendo enganado". A importância em relação ao viral e tantas outras coisas só aumenta, até pq você começa a atingir plataformas de grande propagação e discussão de conteúdo. Mas é um tema que não faz parte do meu escopo profissional, mas que respeito.
O grande problema que vejo nisso tudo é a necessidade insana que empresas possuem pra terem perfis no Twitter, páginas no Facebook. Elas entram sem ao menos saber o motivo. Condeno este tipo de atitude.
tukrO’s 2.0: O que fazer quando as mídias sociais viram um problema?
Ex: Cria-se um fórum e diversos internautas esculacham a empresa nele, ou até casos como o da Holly Grogan, 15 anos, que se suicidou na Inglaterra vítima de uma campanha de abusos e intimidações em sites de relacionamento social como Facebook, Bebo e MySpace.
Rafael: É uma situação delicada e que é possível contorná-la. Se há críticas desenfreadas, algum motivo tem. Eu lembro da história de uma companhia aérea que sofreu um grande problema em um de seus vôos. O presidente da empresa, ao invés de convocar a imprensa pra uma coletiva, desceu do "salto", produziu um vídeo caseiro e disponibilizou no Youtube, pedindo desculpas a todos, assumindo os erros e tentando tranquilizar as pessoas de que "o incidente nunca mais iria ocorrer".
tukrO’s 2.0: Você considera importante estreitar relação com os consumidores de mídias sociais? O que sugere fazer para isso?
Rafael: Depende muito do formato. Google e Apple, duas das empresas mais respeitas hoje no planeta, não produzem ações em mídia social. Isso depende muito do caráter da empresa e do produto que vende. Se o produto é bom, a mídia espontânea acontece sem você incentivar o consumidor. Isso eu não tenho dúvidas.
Mas quando entramos no quesito informação, vejo uma necessidade do jornalista estar ou conhecer as redes pois acredito muito no "fim do poder da página principal" de um portal ou site. Devemos pensar em distribuições de conteúdos e não em centralização.O jornalista é mais um nó inserido às redes descentralizadas distribuídas.
tukrO’s 2.0: Você poderia citar 3 ou 4 das ferramentas que considera mais efetivas para atingir o público alvo, e também dizer quais você já ouviu falar mas percebeu na prática que é apenas lenda urbana?
Rafael: No meu caso, o Twitter e o Facebook são duas grandes plataformas sociais que me ajudam no trabalho em VEJA. E isso é refletido em números: nesta semana, o perfil de VEJA que administro no Twitter foi o sétimo mais influente de todo o planeta. E o primeiro no Brasil. É um grande resultado pra quem não tem a premissa hard-news de portal e promove uma conversa com todos os seguidores em plataformas sociais. No Facebook, nossa página (facebook.com/veja) tem mais de 1000 fãs que produzem comentários em quase todas as matérias que disponibilizamos por lá. Não vejo empresas de mídia com ações de distribuição de conteúdo nestas duas plataformas simultaneamente. Estamos fugindo da premissa do lugar-comum em território nacional. Isso é positivo.
Sobre lenda urbana, o Second Life é o grande caso. Foi o maior oba-oba entre todas empresas e, pouco tempo depois, um fracasso.
tukrO’s 2.0: Qual a sua percepção desse universo de mídias social e a proporção que ela vem tomando hoje?
Rafael: Mídia Social cresce a cada dia e, aos poucos, começa a ganhar uma curva linear. ou seja, há uma estabilização do negócio. Não sou um entusiasta deste tipo de coisa, mas vejo isso pelo lado crítico. Eu acho que há uma necessidade do ser humano em encontrar uma ferramenta para mostrar que existe a liberdade de expressão. Foi assim com o Fax em 1989, o e-mail em 1994, 1995 e agora com Twitter e Facebook em 2008/09. O mais interessante disso tudo é quanto mais utilizamos ferramentas como essas que acabei de citar, mais focos de censura irão aparecer.
tukrO’s 2.0: Para finalizar gostaria de saber se você tem algum comentário, dicas sobre Blog, a utilização das mídias sociais e se poderia nos falar sobre o prêmio IBest.
Rafael: Bom, sobre o prêmio IBest tivemos a honra de participar da última edição do evento, já que ele não existe mais. Conquistamos em 2008 o terceiro lugar na categoria Publicidade e Comunicação e foi uma das conquistas mais bacanas que tivemos até então. Antes, já havíamos garantido o segundo melhor post entre todos os blogs brasileiros em 2007, na premiação Best Blogs Brazil.
Nossos agradecimentos ao Rafael Sbarai!